Autor: Waddy - Data: 10/02/2017 16:02

Comunidades recebem certificação quilombola e garantem acesso a políticas públicas

Documento reconhece formalmente os territórios em Minas Gerais e possibilita aos povos remanescentes de quilombos a inclusão em diversos programas sociais e econômicos
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Mais de 30 comunidades receberam o Certificado de Quilombolas no ano passado em Minas Gerais. O documento, que garante o reconhecimento formal dos seus territórios como remanescentes de quilombos, é ainda um instrumento que permite a inclusão das famílias nas políticas públicas específicas para estes povos. Neste ano, a expectativa é que sejam certificadas outras 40 comunidades quilombolas no estado.

As comunidades quilombolas são grupos étnicos que se autodefinem a partir das relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias.

Estima-se que em todo o país existam mais de três mil comunidades quilombolas, segundo dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em Minas Gerais, a estimativa é que existam 800 comunidades quilombolas, sendo 300 delas certificadas.

O processo de certificação é de responsabilidade da Fundação Cultural Palmares (FCP) e conta com a parceria da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário (Seda).

“O certificado, além de ser um reconhecimento, serve para garantir direitos historicamente negados a estas comunidades e para valorizar suas atividades produtivas, além de possibilitar o acesso a várias políticas públicas que podem mudar a realidade destes povos”, explica o diretor da Seda para o Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais, Vandeli dos Santos, que foi também o primeiro quilombola a assumir cargo na administração pública estadual.

Ao serem reconhecidas como remanescentes de quilombo, as comunidades passam a ter direito a programas como o Minha Casa Minha Vida Rural, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e o Programa de Bolsa Permanência, que concede auxílio financeiro a estudantes matriculados em instituições federais de ensino superior. Além disso, também podem solicitar ao Incra a titularidade das terras em que estão localizadas.

A comunidade quilombola de Santa Cruz, em Ouro Verde de Minas, no Território Mucuri, ganhou qualidade de vida. Após a certificação, a renda das famílias da comunidade vem da produção de alimentos, que são comercializados para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).  

“Muita coisa melhorou para nós. Mais da metade das famílias da comunidade hoje fornece alimentos como mandioca, frutas, rapadura e outros para os programas, e isso mudou muito a nossa vida”, conta o quilombola e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ouro Verde de Minas, Assis Pereira.

Além disso, a comunidade de Santa Cruz tem uma produção coletiva de iogurte, que só foi possível após acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). O projeto evitou o êxodo rural e gera renda para os agricultores familiares quilombolas. 

Porém, para Assis Pereira, o maior diferencial da certificação foi a mudança de posicionamento por parte dos membros da comunidade. “Muitos quilombolas não acreditavam na força das próprias raízes, então esse reconhecimento mexeu muito com a nossa autoestima. O preconceito das pessoas com a comunidade também diminuiu bastante”, relata.

Desde julho de 2015 a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário (Seda) vem efetivamente participando das certificações das comunidades quilombolas em Minas Gerais. “É uma oportunidade que temos para ouvir as demandas e trabalhar em políticas públicas específicas”, destaca Vandeli dos Santos.

 

Mudança de realidade

Em São João da Ponte, no Território Norte, a comunidade Quilombo Agreste comemora os benefícios obtidos após o reconhecimento como quilombola. “Não tínhamos uma escola de ensino médio, então os jovens terminavam o ensino fundamental e ficavam sem estudar. Após a certificação, em 2015, conseguimos um espaço cedido e melhoramos muito a educação na comunidade”, conta a diretora da Escola Estadual de Ensino Médio do quilombo, Valdirene Bastos.

Além disso, por se tratar de escola quilombola, o valor repassado pela União por dia letivo para a merenda escolar de cada aluno é diferenciado. “Precisamos ser certificados para ter acesso a isso”, diz Valdirene.

Hoje, a escola tem 113 alunos matriculados no ensino médio, o que corresponde a cerca de 90% dos jovens da comunidade quilombola. “Todo mundo hoje se sente mais valorizado. Estávamos esquecidos”, conclui a diretora.

Dentre diversas políticas públicas às quais os povos quilombolas podem ter acesso, uma que está mudando a realidade das famílias e dos jovens, segundo o diretor de Políticas para Povos e Comunidades Tradicionais da Seda, Vandeli dos Santos, é o ingresso nas Universidades e Institutos Federais, com concessão de bolsas, pelo Governo Federal, que possibilitam a permanência dos estudantes nestas instituições de ensino.

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