Autor: Carlos Alberto - Data: 16/01/2019 15:45

Professora de Guaxupé aponta, em pesquisa de mestrado, a diferença entre ser criança e ter uma infância

Juliana Costa, diretora do Colégio Dom Inácio, fez a defesa pública de dissertação na UNICAMP. Na foto, ela aparece com o reitor do Unifeg, professor doutor Reginaldo Arthus, e o orientador da pesquisadora, dr. César Nunes, da Faculdade de Educação da Universidade de Campinas
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A professora Juliana Cristina da Costa, diretora do Colégio Dom Inácio de Guaxupé, concluiu o seu mestrado em Educação, realizado pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, intitulado “Educação Infantil, Infância e Criança: pressupostos filosóficos, movimentos e ideias que integraram a Educação Infantil ao Sistema Nacional de Educação”. Com cerca de vinte anos de experiência, apesar de bastante jovial, a profissional em questão destacou, na defesa da dissertação, o direito à infância, por parte das crianças que, por uma série de motivos, sempre tiveram etapas importantes de suas vidas antecipadas, como, por exemplo, o acesso à leitura, cada vez mais cedo, em detrimento do “brincar”, que é direito pleno destes pequeninos.

Juliana Costa defendeu sua tese dia 10 de dezembro último, em banca pública, tendo como professor orientador o dr. César Aparecido Nunes, da Faculdade de Educação da UNICAMP (além dele, familiares da pesquisadora assistiram e o reitor do Unifeg, professor doutor Reginaldo Arthus, compôs a banca). “É um tema que sempre me trouxe bastante inquietações, pois sou do ‘chão da sala’ de Educação Infantil, minha formação inicial é para trabalho em creche e pré-escola, sendo que temos um olhar diferenciado para as crianças. Então, defender este tema no mesmo dia em que foi comemorado os setenta anos da ‘Declaração Universal dos Direitos Humanos’, foi, para mim, uma grande satisfação!”, comentou a autora da pesquisa realizada por cerca de dois anos.

Preocupada com o chamado “senso comum” do processo de alfabetização precoce em creches e pré-escolas do Brasil, Juliana analisou dados históricos, fatos registrados e outros meios científicos, quando chegou à conclusão de que as crianças precisam é de infância: “Há uma crença, um pouco camuflada, de que para trabalhar na Educação Infantil pode ser qualquer um: se for mulher, é um grande diferencial e, se ela for mãe, é um diferencial maior ainda e que pode ser de qualquer jeito! Então, fui às raízes deste senso comum para descobrir o que levou a Educação Infantil a ser integrada ao Sistema Nacional de Educação; o que levou o legislador a ter um olhar diferente para a Educação Infantil. Por que a gente antecipa tanto as etapas escolares das crianças, com uma alfabetização precoce, uma quantidade muito grande de atividades, enquanto, na verdade, estas crianças precisam ter o direito à infância?! Existe o protagonismo do brincar, da ludicidade, das perguntas sobre a vida aflorando nestes ambientes”, detalhou a autora do Mestrado.

Convencida de que as séries iniciais, a começar pelas creches, são resultados de uma necessidade das mães, no que diz respeito à inclusão da mulher no mercado de trabalho, a professora Juliana argumentou: “A pesquisa mostrou que as primeiras modalidades de educação infantil impactaram a saúde, a assistência social, entre outros, tendo, por isto, ficado como prioridade a higiene, o cuidado, o descanso e o bem-estar das crianças. Naquela época, não se sabia o que ensinar às crianças, sendo que só havia o modelo da Educação Fundamental. Aí, começaram a antecipar as etapas com a pré-escola, com reprodução de atividades que davam no Ensino Fundamental; havia e ainda há uma grande motivação para que as crianças comecem a ler cada vez mais cedo, sendo que cada um tem seu tempo. Mas, a que custo estas crianças eram alfabetizadas, neste processo acelerado? Quanto tempo elas passavam dentro da sala da aula?”, indagou ela.

 

Professora não é “tia”

Conforme a pesquisa da professora Juliana, a criança jamais teve o protagonismo da situação: “As brincadeiras, as interações, o significado que dão aos movimentos, para o próprio corpo, as diversas expressões e, enfim, elas precisam deste espaço garantido! Neste contexto, há a questão da formação do profissional. Era muito comum que as professoras tivessem uma relação igualitária à família, tendo por isto elas sido chamadas de ‘tias’. As tias são figuras familiares, de afeto, de carinho, mas para ser professor é preciso disto tudo e uma experiência profissional, de docente, de alguém que estudou para estar ali, que precisa conhecer o desenvolvimento infantil para ajudar as crianças em seus desenvolvimentos. Ser tia não é uma opção: é uma situação que acontece! Mas, ser professora é uma escolha! A gente precisa tirar esta camuflagem do profissional da Educação Infantil, que muitas vezes não tem o respeito que precisa.

 

Aprendendo e ensinando

“Além da conquista, é preciso lutar pelo direito, que está declarado, mas precisa ser efetivado. A gente precisa continuar fazendo a pesquisa para que, além de discutir ‘como se ensina’, tenho que saber ‘como a criança aprende’. A criança não é um ser à margem da sociedade, que muitas vezes não tem facilidade para se expor, se comunicar, mas eles pensam, produzem história, cultura, fazem perguntas sobre vida. Criança é um sujeito social, histórico, político e que precisa de atenção. Ela não pede autorização para pensar, para aprender. É nesta fase que eles fazem ciência, quando perguntam sobre a vida. Enfim, criança, todo mundo foi um dia ou ainda é. Mas, ter infância é outra coisa! É algo que precisa se alinhar. Então, toda a pesquisa foi voltada para compreender o motivo pelo qual a Educação Infantil ainda não conseguiu ter um caráter específico para a criança? Por que estamos antecipamos estas etapas? É preciso chamar novamente a academia para pensar além do direito, que já foi constituído, seja no Plano Nacional de Educação ou onde quer que seja. Temos, agora, que continuar a luta para que a criança tenha sua infância desfrutada dentro destas instituições. E que elas ultrapassem as barreiras da questão trabalhista da mulher, da assistência social e impacte, efetivamente, a Educação, e que a criança tenha o protagonismo”.

 

NO DOM INÁCIO

À frente da direção do Colégio Dom Inácio de Guaxupé, Juliana Costa conduz continuados projetos com vistas à evolução do sistema de ensino infantil: “Desde que assumimos a gestão do Colégio, isto é algo que nos inquieta tanto que já reestruturamos vários espaços da escola para que as crianças tivessem atividades além da sala de aula. Que fizessem culinária, ateliê de artes, biblioteca, brinquedoteca, playground, jardins e salas verdes. As professoras também estão cada vez mais voltadas a estes projetos, que vão muito além do material didático, do apostilado. Enfim, aqui dentro do Dom Inácio as crianças têm interações múltiplas e ainda vamos melhorar! Temos a consciência plena de que a Educação é muito dinâmica e que somos aprendizes, e que quando a gente ensina, a gente aprende. E a gente vai ressignificar a Educação Infantil quando olharmos para dentro do protagonismo, que são as crianças. E esta estruturação vai desde o espaço físico, à grade curricular, pedagógica, entre outras”, descreveu a dirigente escolar.

 

Todos podem!!!

Ainda sobre o Mestrado, a professora Juliana Costa incentivou: “É possível para todos! O conhecimento é algo que está à disposição de todos. Temos estas divergências todas entre escolas públicas e privadas, mas isto é uma questão de oportunidades. E vai muito do sujeito, que academicamente sabe que ele pode ultrapassar barreiras, que o conhecimento é uma arma não violenta de reivindicação de direitos, de busca por conhecimentos. Então, estou na gestão da escola, mas sou estudante também. É algo importante, para que nossos alunos nos vejam como o reflexo de algo dinâmico. Nossos professores, no Colégio, estão finalizando uma pós-graduação que oferecemos a todos. Eles trabalham a semana toda e vêm aos sábados para este estudo, pois estão neste processo de revisão de proposta pedagógica onde todos aprende. É possível para todos, basta o sujeito buscar o protagonismo do conhecimento. Um sujeito que faz a crítica, mas vai à luta, que busca. E a escola tem que ser colocada como um ambiente onde se faz pesquisa. Eu não preciso esperar a faculdade para pesquisar, pois são as perguntas que nos motivam as respostas”, finalizou a professora Juliana, que é graduada em Letras (Português/Inglês) pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guaxupé; especializada em Educação Infantil pelo Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé e, agora, mestra em Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP. Juliana atuou, ainda, como docente da Educação Infantil e do Curso de Pedagogia UNIFEG, como coordenadora pedagógica da Educação Infantil. CLIQUE AQUI e ouça a entrevista na íntegra!!!

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